A contemporaneidade do mito: Anel de Giges na atualidade

Platão em sua obra “Republica” – 370 a.C. relata a estória de Giges: um pastor a serviço do rei de Lídia que encontra um anel que lhe concede o poder da invisibilidade. O empoderamento da invisibilidade trás à tona sua ambição e seu desejo pelo poder.  Giges acaba por seduzir a rainha e conspira com ela a tomada do reinado com sucesso, segundo Platão.

Na atualidade, podemos pensar na representação do Anel de Giges como o poder de forma geral. Podendo o detentor dele, usá-lo de forma justa ou injusta. É necessário também expor que não podemos julgar a ação do justo como boa pois, ao fazê-lo estamos atribuindo reconhecimento a ele, como explica Platão em sua obra:

“O justo será despido de tudo, menos da sua justiça”

Platão. A república (p. 57). Nova Fronteira.

Com esse cenário em mente, se nos colocarmos na situação de Giges, ou seja, em poder desse anel podemos cometer o erro inicial da reflexão de que não cometeríamos ações contraventoras tais quais a de Giges. Essa reflexão é válida se pensarmos em atos grandiosos: matar, ferir, roubar, enganar, conspirar, entre outras ações extravagantes. Porém, não podemos nos enganar e esquecer das pequenas contraversões do dia a dia como: atravessar no sinal vermelho, estacionar em vagas exclusivas, furar filas etc. Podemos pensar que esses pequenos atos, nada influenciam o outro ou ainda que não precisam ser tomadas como ações errôneas.  São exatamente essas pequenas contraversões que em posse do anel de Giges, faríamos. Talvez, bater em um vizinho que nos incomoda, entrar em um avião e viajar pelo mundo sem pagar passagem, comer algo em um restaurante caro sem pagar a conta, descobrir segredos de alguém. A corrupção dos valores éticos é feita também por pequenos atos, e esse são os que nós acumularíamos ao ter o poder em nossas mãos.

Outro ponto a ser levando em consideração são as noções éticas de certo e errado que são embutidas em nós ao logo de nossa existência, uma variedade delas não necessariamente acreditamos ou faz sentido para nós. Sendo assim, em posse de tal poder provavelmente nos despiríamos da ética por coerção, ou seja, que é nos imposta pela sociedade, ou por nossa criação, mas, que não ressoa em nossa alma.  Atuando como agentes de nossos desejos e conscientes ou não de nossas pequenas contraversões.